Primeiro Encontro (capítulo 1)

Quando penso sobre a forma e o tempo em que conheci o Nuno, o amor da minha vida, faço um exercício interior para perceber que força espiritual nos uniu. Talvez esteja a fazer perguntas demasiado difíceis a mim mesma quando a resposta é simples: aconteceu quando tinha que acontecer.
Vivi tudo o que vivi até então como uma preparação para o receber nos meus braços, saber entendê-lo, o saber cuidar, aprender a amar de novo.

Eu, uma tripeira convicta que a sua invicta era a mais bela cidade de todas, podia afirmá-lo porque conhecia Portugal de lés-a-lés, tinha uma paixoneta por uma cidade próxima do Porto - Amarante.
Em pequena, enquanto passeava e brincava pelas margens do Tâmega, o meu amarantino andava pelo Porto, na escola da APPC, para testar as suas capacidades a fim de verificar se podia ou não ingressar no ensino normal. Entre estas idas e vindas nas duas cidades, podíamos ter tropeçado um no outro, mas isso nunca aconteceu. Aliás, era mais provável eu ser atropelada pela sua cadeira de rodas, do que tropeçarmos os dois, mas adiante...
Frequentamos os mesmos locais enquanto crianças, como por exemplo, a praia de Vila Chã perto de Vila do Conde. Até tínhamos uma família lá, que eram nossos amigos comuns e, mesmo assim, o destino teimava em nos trocar as voltas.
Descobrimos que temos mais coisas em comum do que imaginaríamos. O Nuno nasceu em 1976, dia 19 de dezembro, e eu nasci em 1978 no dia 30 de dezembro. O meu avô paterno morreu dias antes de me conhecer. Fechou os seus olhos no dia 19 de dezembro de 78, ficando o dia 19 marcado para sempre na nossa memória familiar. O Nuno nasceu com Paralisia Cerebral (PC) e eu fui salva, de uma provável Paralisia Cerebral porque também demorei muito tempo para nascer, por um anjo que mais tarde vim a descobrir que era irmã de uma professora de Ciências que tive no 6º ano, na Escola Preparatória do Cerco do Porto.
Se eu tivesse nascido com PC, nunca teria sido possível casar com o Nuno, que nunca se viu a relacionar-se com alguém que tivesse uma deficiência. Como ele costuma dizer: "Dois deficientes, totalmente dependentes de terceiros, como seria a sua vida sexual?".

Felizmente, Deus deu a um de nós a possibilidade de completar o outro.

Certo dia, estou eu na minha rotina livreira, uma colega informa-me que tinha recebido um email com um pedido de ajuda e que iria reencaminhar para o meu email, dizia assim:

"Caríssimos,
O meu nome é Nuno Meireles, sou um deficiente com PC com 34 anos de idade, natural e residente em Amarante.(...)Tendo a paixão pelas letras, acabei de lançar a minha 2ª aventura pelo mundo da literatura. Apesar de não ter a almofada de qualquer editora, não é por isso que eu deixo de concretizar os meus projetos.(...) decidi avançar para pedir-vos ajuda para que me o deixem colocar à venda na vossa loja. Será que peço muito? :-) 
(...) Se a resposta for positiva, será possível fazer uma sessão de apresentação e autógrafos para que os leitores fiquem a conhecer realmente quem é o Nuno Meireles e interagirem com ele?
Fico ansiosamente a aguardar uma resposta da vossa parte, tendo a esperança de que me vão ajudar a atingir mais um objetivo na minha caminhada que se chama "vida". 
Os meus melhores cumprimentos,
Nuno Meireles"

O Nuno enviou o email a 9 de março de 2011 às 16:07, eu respondi no mesmo dia às 17:56. (Uma informação adicional, este dia calhou a uma quarta-feira, aquele dia que costumo chamar Dia dos Malucos Saírem à Rua). E de facto, somos os dois uns grandes malucos.
Respondi, obviamente, com uma resposta positiva e sem demoras, acrescentando "Vivemos para realizar os nossos sonhos :-)" e um "Esperando conhecê-lo pessoalmente em breve".

Não demorou muito, o Nuno procurou-me nas redes sociais para tentar descobrir quem era aquela rapariga especial. Misteriosamente, eu tinha aberto perfil no Facebook há relativamente pouco tempo, por convite de um amigo que é hoje um Grande amigo dos dois, portanto, terá sido mesmo sorte do Nuno ou será que já estava traçado?
Curiosamente, este livro do Nuno acabadinho de sair da gráfica, chama-se Duas vidas, um destino.
Já sei o que estão a pensar! Estória rocambolesca?
Ainda mal comecei....

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