O piar da coruja


Eu peço-vos desculpa por ter ido votar!
Desiludi-vos ao não pactuar com a inércia, com o silêncio e com o comodismo.
Também eu estou desiludida com o sistema, com os políticos, com os grevistas, com a indiferença, com alguns jovens, com o discurso do "deixa andar" e o "chuta pra canto", mas....fui votar. Peço mil desculpas!
Eu votei sem problemas, mas não vi nenhuma mesa de voto para anões e anãs. Como votam as pessoas com nanismo? Em cima dum banco, talvez...não sei. Só sei que os portugueses são desenrascados!
Levei a minha flor mais pequena para lhe ensinar como se planta uma semente. Queria mostrar à minha filha, apesar dos seus inocentes 3 anos, que votar é um ritual da liberdade de expressão. Deve ser um ritual de iniciação, que exige presença e não comodismo de sofá. É por isso, que o voto é Presencial e não virtual! Votar exige o esforço da própria ação, o deslocar do corpo ao lugar, o pegar no boletim e fazer deslizar a caneta no sítio a cultivar a semente.
Quis ensinar-lhe, que podemos castigar uma plantação de ideologias apenas dobrando o papel sem semear nada. Um voto em branco, é um excelente ensaio sobre a lucidez, ou cegueira, talvez. Disse-lhe, que um palavrão começado por "A" não leva recado a ninguém. Não leva, nem trás....o "A" não é puto de recados. É apenas inútil...
Mas o presidente da mesa de voto, não deixou que uma criança de 3 anos acompanhasse a mãe. O voto é secreto, e uma criança que pode ser um bebé de colo, vai influenciar a minha decisão de votar. Portanto, a minha filha não percebeu o que eu fui lá fazer por culpa do sistema eleitoral!
Votei no único partido que falou sobre o estatuto do cuidador informal, e sei que mais dia menos dia vai ser uma realidade em Portugal. Irá ser muito importante para quem votou e para quem não o fez.
Votei, para que o meu marido não tenha de votar novamente dentro do carro, e sem qualquer privacidade.
Votei, porque mesmo vivendo em situação de carência económica, o Estado obriga-me a pagar taxas moderadoras, porque não atualiza o sistema de rendimentos do agregado familiar em função da situação atual. Estamos em 2019, e o ano de exercício fiscal para efeito de contas ao dia 26 de maio, ainda é o ano de 2017. Dois anos a reboque de números falsos à data de hoje.
Votei, porque quero preservar o nosso SNS. Não me importo de pagar 1,50 para tirar dois simples pontos, sabendo que esse dinheiro pode fazer diferença nas compressas em falta.
Votei, para sentar 21 rabos no parlamento europeu para falarem por mim e por mais 3 milhões de portugueses que cumpriram o dever cívico. Os mesmos 21 rabos, com ou sem abstenção, como o frango no churrasco, quando escolhemos com ou sem picante. Nada mudou.
Trago poucos euros no bolso, mas compreendo que é o que a UE nos permite trazer, por ser uma moeda demasiado pesada para a nossa microeconomia. Mas, começo a achar, que 7 milhões de portugueses devem ter os bolsos cheios, por optarem não votar.
Têm liberdade para não votar, mas as consequências nas suas vidas serão ainda mais desastrosas do que antes, e o meu marido pode ter de continuar a votar dentro do carro. Vou estar atenta, quando chegar a hora de propostas de lei não passarem na assembleia devido ao elevado número de abstenções por parte dos partidos, e quero ver qual será o vosso discurso depois. Vão ter coragem de se indignar com essas abstenções? 😊

Esquecendo um pouco este tema eleitoral, mas continuando indignada, eu amo o meu país. Todos os países têm a sua cota de palermas, mas o meu país, para além desses palermas, também têm gente muito boa. Quando acontece alguma calamidade, existe partilha, solidariedade, puxar de cabelos, esbracejar com os braços (desculpando o pleonasmo), brigas de bairro, partimos a loiça toda até conseguirmos ajudar o próximo. Somos muito generosos!
Quando a GNR faz uma operação stop, os condutores do meu país, usam um sistema de código Morse com as luzes do carro, para alertar outros condutores da presença das "novas prostitutas" da AT, a fim de evitar chatices. Há maior companheirismo e atenção entre nós nestas alturas, não acham? Mesmo que com esta inocência, estejamos a ajudar criminosos a fugir da polícia.
Somos um país com lombas redutoras de velocidade, mas arranjamos sempre forma de contornar o seu propósito, arrancando-as para não danificar o carro.
Recebemos os estrangeiros como ninguém. Sorrimos e saudamos o estranja, e entredentes dizemos: "paga, mas é, e vê se aprendes a falar português, estranja do carvalho!".
Temos uma nossa senhora de Fátima. Um Vaticano dentro de Portugal. Uma máquina de fazer dinheiro e lágrimas de sofrimento. Não tem Papa, mas há por lá alguém que vai papando alguma coisa.
Temos portugueses ilustres cá dentro e lá fora a fazer brilharete. Tinha de ser. Portugal é demasiado pequeno para tanta gente genial, como o Joe Berardo e o Rui Pinto. Já nem refiro os brilharetes do futebol e do Guterres, que vai ganhando alguns prémios pela sua Humanidade.
A nossa música é de outro mundo! Não há música "pimba" e não há fado como o nosso. Até chamam o Conan de E.T.!
A comidinha e a pinga é da boa também! Somos o país das tascas, tasquinhas e tabernas.
Temos as melhores autoestradas e criamos a via verde.
Somos um país de gente, na grande maioria, educada e disciplinada. Até as senhoras da vida fazem continência aos militares!
As paisagens bravias e serenas tiram-nos o fôlego.
A nossa cultura popular vai deixando uma boa herança a gerações vindouras.

Temos tudo cá dentro. Só necessitamos de mais união e afastar de vez o "orgulhosamente, sós".

"As pessoas costumam amar a verdade quando esta as ilumina, porém tendem a odiá-la quando as confronta." 
Santo Agostinho 


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