Estatuto do cuidador informal não é o RSI nem o IAS. É justiça!

O tio Fernando com o Nuno ao colo

Com os papás 

A mana Iva no colinho do mano

Quando afirmo que somos prováveis pessoas com diversidade funcional, estou a considerar que haverá, provavelmente, mais cuidadores informais. É um facto.
Nunca imaginamos essa possibilidade porque o mal só acontece aos outros. É certo, que também não vamos andar constantemente a pensar que o azar nos vai bater à porta, mas estamos preparados quando isso acontecer? Não.
Se estivessemos prontos, em primeiro lugar não nos questionavamos "porquê a mim?"; em segundo, tomavamos precauções quando escolhemos viver numa casa inacessível; em terceiro, já existia um estatuto de apoio e proteção para quem tem de cuidar.
Realidade: somos cuidadores desde o berço até ao caixão.
A placenta aconchega o bebé durante nove meses. O colo da mãe, ou do pai, protege o recém-nascido até ao dia em que começa a andar. A criança tem a sua primeira noção de cuidador ao brincar com um boneco, e posteriormente, quando pede o seu primeiro animal de estimação. Os pais, os avós e restantes familiares, são a base fulcral do desenvolvimento físico, intelectual e emocional da criança, até à idade adulta. Quando já adulta, sentirá a necessidade de gerar outro ser, que irá cuidar da mesma forma, como os seus antecessores. Os pais, inevitavelmente, vão atravessar o período em que precisam dos filhos para cuidarem deles, até ao seu eterno descanso.
Passamos a vida a cuidar e nem damos conta!
Por isso, eu não escolhi o abismo quando cuido do meu marido, com paralisia cerebral desde o berço. Eu aceito a realidade como ela é.  Eu abraço o ciclo da vida. É o meu propósito. É a minha missão e faz todo o sentido que seja assim.
Não sou especial, nem ele o é. Não queremos esse rótulo.
Somos únicos no meio da diversidade.
Somos ímpares e versões originais de nós mesmos.
Mas entre estas singularidades, temos de ter direitos. Se somos cuidadores informais à força ou por amor, isso significa que outros vão ser libertados dessa obrigação. O Estado. Vamos deixar de trabalhar, de ter a nossa independência. Vamos abdicar dos nossos sonhos, ou adiá-los. Não teremos férias nem reformas confortáveis...
Vale a pena lutar por este estatuto?
Vale a pena amarmos os outros?
É disso que se trata de quem cuida! Amar.

No meu caso, cuidar é isto e muito mais.
Levantar o nuno de manhã, e transportá-lo até ao WC com a força de braços. Sentá-lo na cadeira, ou deitá-lo na cama para fazer a higiene pessoal. Desfazer a barba. Vesti-lo. Dar-lhe o pequeno almoço. Levá-lo ao trabalho. Permanecer lá para o que ele necessitar, idas ao WC e para lhe dar de comer. Coçar-lhe o nariz ou limpá-lo, se necessário. Entretanto, já tirei a cadeira de rodas manual do carro, um par de vezes. Monta, desmonta, tudo com a força do esqueleto. Passar um creme nas costas quando está com alguma dor, administrar medicação que toma com regularidade, estar atenta ao surgimento de possíveis escaras, etc.
Cuido igualmente de dois filhos, pensando bem e no fim das contas, são três. Tenho apoio da minha família adquirida, a mãe, pai e mana do Nuno. Tenho ajuda dos meus pais, quando estão por perto e quando podem...a saúde é frágil e não deixa muito...
Há muito afeto e amor. É o que vai segurando todos os alicerces. Imaginem se o Estado comparticipasse nisto! Se as instituições se responsabilizassem por ter condicionado a vida de alguém através da negligência!
Hoje nós, amanhã vós!
O casal que ainda melindra muita gente 😊 

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